::: Bruno Viterbo
::: Gregório Torossian
Em um horário incomum, o SBT realizou o terceiro debate entre os prefeituráveis à Capital nesta sexta (23). Realizado às 13h, o encontro reuniu os principais candidatos ao comando de São Paulo na emissora, que realizou o debate em parceria com a Folha de S. Paulo e o portal UOL.
O SP Norte foi um dos convidados a acompanhar do debate nos estúdios do SBT. Apesar do formato mais dinâmico, com os jornalistas dos três veículos organizadores perguntando e complementando as respostas dos candidatos, o formato acaba por não favorecer embates e sim propostas dos candidatos – ainda que estes divirjam daquilo que fora perguntado ora pelos jornalistas, ora por outro candidato.
Os candidatos, entre uma farpa e outra, focaram dois temas: saúde e educação. No entanto, temas caros à cidade, como moradia e acessibilidade foram deixados de lado. A educação também foi tema, com críticas à atual gestão e aos laços que os candidatos possuem com “padrinhos” políticos.
O debate começou com uma pergunta incômoda aos candidatos, especificamente a Celso Russomano (PRB). Nesta semana, na Câmara dos Deputados – Russomanno é deputado federal – tentou anistiar o caixa 2. A pergunta do jornalista Diogo Pinheiro (UOL) foi direta ao partido de Russomanno, pois a proposta é de um parlamentar do partido. O candidato negou, pois “eram poucos que lá estavam e se depender de mim esse projeto jamais será aprovado”. Confrontado pelo jornalista em relação a notas frias de um membro da campanha, Russomanno mostrou um documento – recurso proibido pelas regras do debate – e disse que quer “a apuração dos fatos o mais rápido e, se houver, será afastado da campanha”.
A educação girou em torno dos Centros de Educação Unificados (CEUs). Criados na gestão de Marta (PMDB), o assunto suscitou declarações de “posse” e de “melhorar o que é bom”. Marta reivindicou pra si a bandeira – “Haddad prometeu 20 e não fez. É a minha bandeira, a educação, como prioridade”. Já Haddad (PT) elencou o aumento no número de creches – falou por diversas vezes sobre os números alcançados, como 410 creches – “duas por semana”, 98 mil vagas, etc. Luiza Erundina (PSOL) rebateu os números, já que a maioria das escolas são conveniadas e que é preciso “inverter a gestão, tem que ser gestão direta da prefeitura e congelar os convênios com as Organizações Sociais”.
João Doria (PSDB) insistiu na bandeira de “bom gestor” e sofreu ataques diretos de Major Olímpio (Solidariedade) e Erundina. Olímpio questionou se Doria vai “prosseguir na forma peessedebista de administração, um partido que tem as mesmas práticas nefastas do governo anterior (Dilma)”. Doria, porém, atacou o PT de Haddad, ao afirmar que “não tem manual de corrupção, quem tem é outro partido” e, depois, elogiou a “boa iniciativa de Haddad” em valorizar a Controladoria Geral do Município.
Tema polêmico da atual gestão, a redução de velocidade nas vias da Capital gerou críticas de João Doria e Major Olimpio. Para o candidato do Solidariedade, a mudança de velocidade deve ser “analisada a partir dos estudos de engenharia. A CET disse que a Prefeitura nunca os consultaram. A própria Secretaria de Segurança não confirma a diminuição do número de acidentes”. Doria, na réplica, comprometeu-se a reduzir a velocidade “na semana seguinte para 90, 70 e 60 km”.
Já em relação à tarifa de transporte público, Luiza Erundina foi confrontada sobre a implantação de tarifa zero. Para a candidata, a dívida ativa de 166 bilhões de reais “precisa ser resgatada, para que possa atender a política de transporte” e que “não propõe congelar a tarifa, mas rever os contratos com as empresas e implementar a tarifa zero progressivamente. A meta é generalizar o sistema de tarifa zero com a criação de um fundo para sustentar esses serviços”.
Em um dos momentos mais incisivos, Haddad foi questionado pelo jornalista Diogo Pinheiro sobre o fato de “esconder o PT da campanha”. O candidato à reeleição afirmou que “quem esconde o passado são outros candidatos, já que Marta apoia um governo que quer congelar as verbas de saúde e educação por 20 anos”. Pinheiro, no complemento, afirmou que se fosse hoje Haddad estaria fora do segundo turno, de acordo com as pesquisas. “O Datafolha não acerta todas, ainda mais em uma campanha tão incomum”, disse o atual prefeito.
Ainda sobre a proposta de congelamento, Major Olímpio voltou-se para Marta. A candidata do PMDB adfirmou que “tem essa preocupação” e que “diminuir (os gastos com) saúde e educação seria um escândalo”. Na réplica, Olímpio afirmou que Marta criticou Russomanno por ter votado a favor “do congelamento das pensões”, e que seria incoerente. Marta, na tréplica: “Você pode mudar de partido, mas não de história. Estou junto com os que mais precisam” – recentemente, Marta afirmou que nunca carregou “bandeiras da esquerda”, ao ser questionada sobre o passado no PT.
João Doria também foi alvo de jornalistas e candidatos sobre questões imobiliárias. Luiza Erundina questionou sobre o valor de uma mansão do candidato – “declarada no Imposto de Renda no valor de 12 milhões, mas o valor de mercado é de 50 milhões. Quanto você paga de IPTU?”. João Doria defendeu-se ao afirmar que paga os “250 mil reais em dia” e que o “trabalho honesto permitiu fazer um bom patrimônio”. Erundina sugeriu a criação de um imposto progressivo para imóveis milionários, e Doria disse que “vê outras formas de fazer justiça. Uma gestão proba já é um caminho”.
Russomanno, ao ser confrontado pelo jornalista Fernando Canzian (Folha) sobre uma proposta de acabar com impostos, como ISS e IPTU, ficou incomodado. “Eu vou reduzir o ISS, e não o IPTU, você precisa ler melhor”.
Também houve espaço para momentos mais leves. Haddad chamou Marta de “prefeita” ao iniciar uma pergunta – “Obrigada!, devolveu a candidata – e Doria ao afirmar que “devolvo a Dilma pra você, não tenho afinidade com nada do que ela fez” depois da pergunta de Kennedy Alencar (SBT) sobre ser um bom gestor e que a ex-presidente foi considerada uma gestora nos tempos de bonança.
Habitação – a não ser a de João Doria – pouco foi citada. Apenas Celso Russomanno, em uma questão que não envolvia o tema, elencou promessas de campanha. O tema, que mobiliza todas as regiões da cidade, não deu as caras neste encontro.
O déficit de moradia na cidade é alto – exemplificado pela quantidade de prédios e terrenos ocupados por sem-teto na Capital. Com preocupações mais voltadas a áreas sensíveis à atual gestão, como saúde e educação, os candidatos esqueceram-se de um tema tão fundamental quanto os dois acima.
O formato de debate no primeiro turno é insustentável. Maçante, a dona de casa – público majoritário no horário, com dedicatórias dos candidatos – provavelmente trocou de canal para assistir ao Vale a Pena Ver de Novo.
Afinal, os candidatos seguem a mesma toada em todos os encontros. A ficção, talvez, seja mais interessante.
Fotos: SBT/Leonardo Nones