:::Bruno Viterbo
O sol brilhou para iluminar mais um novo dia, pois a Casa Verde está em festa por seus 102 anos, celebrados neste 21 de maio.
É hora de reviver a história, uma era de glória, desde os tempos do Brasil colonial. Nessa viagem encontra-se a Casa Verde: exuberante, florescente, tropical. Às margens do Rio Mandaqui, Amador Bueno construiu um moinho de vento.
Plantou trigo e fez do café a primeira exportação do grão para o resto do Estado. Padres capuchinhos chegaram e implantaram a religião. Enquanto isso, o sítio era tratado com carinho para ser a nobre hospedagem do primeiro imperador, Dom Pedro I, e depois Duque de Caxias e Domitila de Castro, a Marquesa de Santos. Outros tantos de valor também passaram por aquelas terras.
Mas essas terras não seriam as mesmas sem as sete moças da travessia do colégio. As “moças da casa verde” eram populares com os estudantes de Direito Social, fazendo ecoar o nome Casa Verde para todos os cantos.
Mas essa história manteve os costumes do Brasil Imperial: a força dos escravos trazidos da África, que fizeram crescer a terra de seus algozes e mantinham no terreiro grande das senzalas o som do omelê e do caracachá. Entoavam suas louvas no caxambu e no caxangá.
O bairro crescia, enquanto a pauliceia silvana via a Casa Verde como rainha da zona suburbana. Crescia à medida que os pobres do outro lado do rio saíam de seus bairros e encontravam nessas terras uma nova morada. Pobres de Brás, Bixiga, Barra Funda. Imigrantes encontraram no bairro o local ideal para fincar suas raízes. A raiz deu fruto, e nascia o samba.
Portanto, silêncio! É madrugada, e no Morro da Casa Verde a raça dorme em paz. Lá embaixo, quando os colegas de maloca começam a sambar, não param mais. Valdir foi buscar o tambor. Laércio trouxe o agogô. O samba na Casa Verde enfezou!
E pra quem diz que o samba não frutificou, só tem raiz.
Silêncio, pois a raça dorme em paz.
É impossível falar da Casa Verde sem falar de samba. Para este texto, foram usados os versos e citações às três grandes escolas do bairro: Unidos do Peruche, com o samba de 1969 em exaltação ao bairro; o próprio Morro da Casa Verde, por meio do samba de Adoniran Barbosa; e a Império de Casa Verde, a “caçula do samba”, com o enredo de 2013 e seu samba-exaltação.