Saídas para crise em debate no Plano de Bairro de Santana

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::: Bruno Viterbo

Discutir a vida em comunidade nos tempos de crise. Essa foi a mensagem que a reunião do Plano de Bairro de Santana passou para os presentes no encontro realizado na última segunda-feira (9/2), no auditório da Infraero (Campo de Marte). À frente da reunião estava o Movimento Santana Viva, representado por Jorge Ifraim. O movimento teve início em 2012, com lideranças do bairro exigindo o não gradeamento da Av. Cruzeiro do Sul.

Com representantes do bairro e dos locais vizinhos, como Mandaqui e Tucuruvi, foi debatido o tema que é o centro da maioria das conversas: a água – ou a falta dela. Para elucidar o tema, foram convidados Walter Tesch, técnico ambientalista, e Eduardo Brito, jornalista e integrante do grupo Aliança pela Água (www.aguasp.com.br), que organiza a sociedade civil para alertar sobre os problemas do presente e do futuro.

Tesch foi Coordenador de Recursos Hídricos na Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, Secretário Adjunto da Operação Defesa das Águas e Subprefeito de Parelheiros, entre 2004 e 2009.

“A espécie humana evoluiu significativamente, mas não sabe lidar com a natureza”, afirmou Tesch sobre o momento que várias partes do mundo atravessam, com a seca e a falta de água. Com o tema sendo parte das conversas cotidianas, Tesch alerta sobre a quantidade de informações: “Hoje, há um exército de especialistas, comentaristas. Eu acho ótimo, porque tem que ter o debate. As informações estão em demasia. A dificuldade é sintetizar essas informações para orientar. O grande desafio é incitar a população a se reunir e discutir”.

Para o técnico ambientalista, a saída é a organização. “É preciso discutir em qual modelo de cidade que queremos viver. Organizar o território é o que nos permite sobreviver em situação crítica. É preciso conhecer e, depois, mobilizar as pessoas. Tem que saber o quanto é desperdiçado pela Sabesp, o consumo em locais específicos, como hospitais e escolas”, concluiu Tesch.
Logo depois, foi a vez do jornalista Eduardo Brito. Atuante na Zona Norte, Brito ressaltou que é preciso olhar para o passado para pensar no presente. Porém, a população não seguiu esse caminho.

Com dados atuais e de dez anos atrás, Brito elucidou o problema. Considerando que o paulistano gaste 150 litros por dia, e uma população de 21 milhões de pessoas (na Grande São Paulo), são necessários 3,1 bilhões de litros para abastecer todos esses habitantes. Outro dado é uma reportagem da Folha de S. Paulo, na qual consta que já havia desperdício da Sabesp, em torno de 33% na Região Metropolitana, por falta de manutenção. Anteriormente, Walter Tesch lembrou que a maioria dos canos da companhia possui mais de 30 anos, o que dificulta ainda mais a manutenção.

Brito também ressaltou que estamos numa região chamada de “quadrilátero afortunado”, área que compreende parte do Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Esses locais estão sob influência direta do Trópico de Capricórnio. Em todos os outros continentes, essas regiões vivem em processo de desertificação ou já são desertos, como no Atacama (Chile, Argentina, Peru e Bolívia). Com a umidade vinda da Amazônia e, consequentemente, as chuvas nas regiões abaixo da floresta no Brasil, a região não sofre tanto quanto em outros lugares. Porém, a crise já chega às torneiras secas e nos volumes mortos alardeados pela Sabesp.
Por fim, a mensagem é que somente organizando a sociedade, seja na própria rua, no bairro e nas reuniões, é possível atravessar os momentos de crise. E, principalmente, com paz e tranquilidade.