Na transmissão dos desfiles na Globo em 2016, o comentarista – e sambista – Aílton Graça fez um comentário que define o carnaval: a grande ópera de rua. Essa definição poderá ser vista, de forma mais clara, no desfile da Acadêmicos do Tucuruvi. Para 2016, a escola traz o enredo “Eu Sou a Arte: Meu Palco é a Rua”. Uma proposta completamente diferente do que a agremiação vinha apresentando nos últimos anos.
Este é o oitavo desfile do carnavalesco Wagner Santos à frente da Tucuruvi. A mudança, necessária em um meio que pede constante renovação, vem em uma hora extremamente propícia. Como bem sabemos, o Prefeito João Doria está “passando a tinta” em grafites e abriu guerra contra os pichadores. O enredo da Tucuruvi vai, justamente, tocar nesse tema: o grafite como forma de protesto na antiga Roma, e hoje, alçado à condição de arte. “O enredo chegou em um momento bem apropriado para que as pessoas e o nosso Prefeito reflitam sobre o quanto é bonito uma arte de rua bem aplicada”, afirma o carnavalesco.
O início do desfile vai mostrar uma Grécia contemporânea, “que aponta o futuro da arte urbana”, de acordo com Wagner. Antes, a comissão de frente vai fazer uma viagem em uma máquina do tempo. Os componentes vão trazer personagens de diferentes épocas que marcaram a arte de rua.
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Já o segundo carro mostra um Coliseu de um jeito bem diferente: a parte inferior do carro é forrada com páginas de histórias em quadrinhos. “Foi ali que começaram a mostrar seu descontentamento com o Imperador César, a forma que o governo tratava a população”, explica o carnavalesco. Alguma semelhança com o que vivemos hoje? A arte de rua, principalmente aquela marcada por imagens, transpassa o tempo. “O que eu trago são propostas de uma época com mensagens do futuro. Estou brincando com as imagens, com as cores, com a forma de se comunicar”, diz Wagner. Portanto, esqueça aquele enredo cronológico. Vai ter grafite e HQ no Coliseu, sim!
Já a terceira alegoria mostrará os saltimbancos, que pegaram a estrada rumo às grandes cidades. Assim começavam as grandes encenações, repletas de cores. O quarto carro dá um salto no tempo e chega ao nova-iorquino Bronx. A alegoria terá uma representação do icônico bairro, além dos monumentos das três cidades que deram gás à arte de rua: Nova Iorque, Paris e Londres. “Vamos ter briga de gangues que disputavam a região para fazer seus grafites, e descobriram que, ao invés da morte, poderiam ter uma disputa muito mais saudável, através da dança. Aí foi criado o hip-hop” conta wagner.
Aliás, o carnaval da Tucuruvi será repleto de ação nos carros e na passarela. Grupos de dança e alas coreografadas vão mostrar todas as vertentes da arte de rua. Nas alegorias, artistas circenses pendurados em argolas e fitas. Essa é uma das apostas do carnavalesco: “Algumas vão se emocionar, outras vão se assustar. A proposta do nosso carnaval é completamente cenográfica”, diz.
Por fim, o último carro vai mostrar São Paulo como uma grande lata de tinta, “uma cidade que dorme e amanhece de outra cor. Vai ser um momento bem apoteótico”, aposta Wagner. Que completa: “As pessoas vão ver nosso trabalho, e poderão dizer: isso eu nunca vi”.
Para a Tucuruvi, como diz o samba, “a caminhada continua, nas quebradas, pelas ruas”, para, quem sabe, conquistar o primeiro título no Grupo Especial.
Samba-enredo
Compositores:Carlos Junior, Fabiano Sorriso, Márcio André, Marcos Vinicius, Wellington da Padaria, Beto Rocha e Biel
Intérprete: Alex Soares
Modéstia à parte sou exemplo de união
Trago da alma minha própria tradução
Eu vou me emocionar, ao ver você aplaudir
“É nóis”, Tucuruvi!
Eu vou revelar
A minha história de inspiração
O homem desenhou na pedra
Sua forma de expressão
O tempo traz no vento a poesia
No Olimpo a chama acendeu
Peças teatrais, cenas visuais
Uma sociedade alternativa
Desabafa em calçadas marginais
Desafiei reinos e leis
Pro desespero do burguês
O saltimbanco a debochar
Fez o nobre enlouquecer!
Todo povo gargalhar!
Nas esquinas me transformei
Cantei e dancei pelo mundo
Sou uma voz a gritar, Hip Hop no ar
Herança dos guetos
Aqui em Sampa a “caminhada” continua
Nas quebradas, pelas ruas
Traços coloridos, mentes geniais
Sou luz que ilumina a cidade
Estrela da comunidade
Presença imortal, no palco do meu Carnaval!
Informações
Quadra: Av. Mazzei, 722
Ensaios: quinta-feira e sábado, às 21h
Entrada: R$ 10
Ensaio técnico: a escola já fez os três ensaios técnicos no sambódromo
Ficha técnica
Enredo: Eu Sou a Arte: Meu Palco é a Rua!
Carnavalesco: Wagner Santos
Presidente: Hussein Abdo El-Selam (“Seu Jamil”)
Mestre-Sala e Porta-Bandeira:
Mestre de bateria: Mestre Guma
Rainha de bateria: Daniela Albuquerque
Musa da bateria: Cíntia Mello
Carros alegóricos: 5
Alas: 22
Componentes: 2.500
Desfile: 6ª escola da sexta-feira (24/2)