Açaí: da lenda à tigela, fruto da Amazônia é a cara do Brasil

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A popularidade do açaí pode ser testada dando uma volta por São Paulo e até mesmo pela Zona Norte: são vários os restaurantes e locais dedicados ao fruto em inúmeras versões. Por aqui, o açaí na tigela é a sensação, acrescido de cereais e outras frutas. É vendido também na forma de suco, natural ou com leite. Mas o que poucos sabem – e pouco utilizado fora de seu local de origem, a Amazônia – é que o fruto também é usado em pratos com peixes, farinha, e até artesanato.

Somente os estados do Pará e Amazonas são responsáveis por 85% da produção mundial do açaí. O consumo do açaí nesses locais chega a ser superior ao do leite. Portanto, a importância do fruto para essas regiões é imensa, e é por lá que o açaí ganha os mais variados usos. Na Amazônia, o fruto – que é despolpado em máquinas ou manualmente – é consumido junto à farinha de mandioca ou tapioca. Para acompanhar peixe assado ou camarão, o açaí é servido na forma de pirão com farinha. No artesanato, as folhas do açaízeiro são utilizadas para a confeção de chapeus, cestos, vassouras de palha, e até na construção, como telhados, e a madeira do tronco.

O maior uso do açaí, no entanto, é na forma de bebidas, doces, geleias e sorvetes. Para a saúde, o fruto traz vários benefícios: previne o câncer com antioxidantes, diminui o colesterol, mantém o coração mais saudável; a vitamina C presente no açaí é ótima para o sistema imunológico, além de contribuir para diminuir processos inflamatórios, envelhecimento e perda de peso. Fonte de energia, o açaí é muito usado por quem pratica esportes, já que o fruto possui propriedades energéticas encontradas no café ou em outras bebidas com este fim.

Mas essa história fica ainda mais rica com a lenda que batizou o açaí. O fruto teria sido originado em uma populosa tribo indígena localizada onde hoje é a capital do Pará, Belém. Com a escassez de alimentos na tribo, o cacique Itaki ordenou que todas as crianças recém-nascidas fossem sacrificadas, a fim de evitar mais fome para a população crescente. Porém, a filha de Itaki, Iaçá, gerou uma linda menina, que também foi sacrificada. Iaçá, então, chorou por noites sem fim e clamou a Tupã uma solução para amenizar sua dor e o sofrimento de seu povo.

Então, sob uma intensa luz, Iaçá ouviu a voz da filha, próxima ao tronco de uma árvore. Ao se aproximar para abraçá-la, Iaçá viu a garota desaparecer. O sofrimento foi tamanho, que Iaçá chorou até padecer. No dia seguinte, seu corpo foi encontrado abraçado à árvore, mas com um sorriso no rosto. Suas lágrimas fecundaram o solo e fizeram brotar os frutos da árvore. Itaki, em um ato de homenagem à filha, batizou o fruto de açaí – Iaçá invertido, e alimentou seu povo.

Aliás, o açaí vai dar samba em 2016. A X-9 Paulistana vai contar a história do fruto (“que por ironia do destino, nasceu chorando. No entanto, fez toda tribo sorrir!”, como diz a sinopse do carnavalesco André Machado) e da cidade de Belém do Pará, que festeja 400 anos de história.

foto: marcelokrelling / Fotolia