As histórias dos bairros de São Paulo são, muitas vezes, peculiares e repletas de personagens e fatos que ajudam a construir a personalidade de cada lugar. Mas, muitas delas, se perdem com o tempo – ou com a imposição do “novo”, como a mudança do nome da estação de metrô Liberdade para Japão-Liberdade, assim como o acréscimo do país oriental no nome da Praça da Liberdade.
Reduto tradicional da colônia oriental na capital – já que abriga, além de japoneses, coreanos, chineses e outros asiáticos –, o bairro fora ocupado por escravos negros libertos, daí o nome da região. Denominação que também deriva de uma revolta popular por conta do enforcamento do soldado negro Chaguinhas, líder de outra revolta: contra os atrasos de salário dos colegas. Enfim, um grito por liberdade.
Aliás, a memória praticamente apagada, dando lugar à imagem de bairro oriental, também começou – de fato – com a queima de arquivos do período da escravidão, em 1890 (um ano depois da Proclamação da República), feita pelo então ministro Ruy Barbosa, como relata a reportagem “A mudança de nome da Praça da Liberdade. E a memória negra em São Paulo”, de Juliana Domingos de Lima, publicada no Nexo Jornal.
Como, então, resgatar a memória de lugares, pessoas e culturas e transmiti-la às novas gerações? Pense na zona norte: há anos, a região é a que mais possui escolas de samba na elite do carnaval paulistano: chegou a ser mais da metade; hoje são seis das 14 agremiações. Tamanha força não foi construída à toa: desde os bambas de Vila Maria, chegando aos do Peruche, a história do samba na zona norte é intrínseca.

E o bairro da Casa Verde? A Unidos do Peruche fica lá perto, a Mocidade Alegre também. Tem o Morro da Casa Verde e, mais recentemente, a Império. Reduto de sambistas, o bairro tem a chance de revisitar sua história com o livro Casa Verde: Uma Pequena África Paulistana, do sambista e sociólogo Tadeu Kaçula.
O livro, de acordo com a descrição no site que visa arrecadar fundos para a publicação (clique AQUI), segue a mesma linha do ocorrido na Liberdade: “uma narrativa importante sobre a resignificação da nossa presença nos processos de expulsão da população negra dos grandes centros urbanos. Neste estudo, mostro a importante contribuição negra na formação social e cultural de um dos bairros com um número elevado de ações culturais de São Paulo”.

Resultado de um trabalho de pesquisa feito em três anos, e concluído em 2016, o livro não foi publicado. “Decidi correr atrás para publicar por conta própria, pois o conteúdo deste material é, do ponto de vista político social e cultural, super importante para ampliarmos o debate sobre a nossa presença física, simbólica e cultural na sociedade brasileira”, afirma Kaçula em publicação no Facabook.
A meta é arrecadar R$ 8 mil para a viabilização do livro, e qualquer valor pode ser doado. A obra tem prefácio do professor e doutor Juarez Xavier, da UNESP de Bauru, e texto de apresentação do ator (e sambista) Aílton Graça. Além de autor, Kaçula é fundador do Instituto Cultural Samba Autêntico, localizado na Freguesia do Ó, que visa a difusão e preservação do samba paulista por meio de shows, oficinas e cursos.
Para conhecer mais
Instituto Cultural Samba Autêntico: Facebook
T. Kaçula: Facebook
Memória do Samba Paulista, projeto que resgata bambas e sambistas em coletâneas de discos: Tratore (distribuidora)
foto (topo): Wikipedia
foto (Tadeu Kaçula): Facebook